domingo, 12 de setembro de 2010

Dilma, bebê a bordo

A pequena Dilma está sentada na sua cadeirinha, os pezinhos soltos no ar, no banco traseiro do carrão de Lula. Supomos que o carrão seja de Lula (só pode ser), uma vez que no banco da frente tudo o que conseguimos divisar são dois vultos engravatados, atrás do vidro escurecido pelo insufilm. Dilminha tem a expressão assustadiça e os bracinhos esticados, segurando firme na proteção da cadeirinha. Poder e desamparo, tutela e dependência estão contrastados, entre o banco da frente e o banco de trás, na charge histórica que Angeli publicou aqui ontem.Nela não há nenhuma palavra, apenas a inscrição "Lei da Cadeirinha". A condição infantilizada, ou lulo-dependente da candidata, fica ainda mais exposta porque a criança retratada pelo artista tem feições de uma senhorinha convencional. (Veja: www.folha.com/102539).Quando começou a campanha na TV, Marina Silva disse, com razão, que estavam "querendo infantilizar a sociedade brasileira com essa história de pai e de mãe". Este tem sido um dos traços definidores da sucessão, recorrente nas falas de Lula e na propaganda de Dilma.Mas também a campanha de José Serra é muito infantilizante. A escolha de Indio da Costa como vice e tudo o que veio depois dela transformaram a candidatura tucana numa espécie de berçário da UDN. Entre o que Serra imaginava ser e o que se tornou o tombo é imenso.Dilma, porém, é imbatível em matéria de festa infantil. Mãe do povo ou filha de Lula, tanto faz, o que importa é que ela permaneça protegida na sua "cadeirinha". Nunca um presidenciável foi tão blindado. Até mesmo nas entrevistas, a petista se preserva cuidadosamente distante da imprensa. É comum vê-la no "JN" caminhando até um púlpito, atrás do qual fala a um buquê de microfones, sem repórteres por perto, o que -conforme observou Renata Lo Prete- dificulta muito réplicas ou questões embaraçosas e lhe confere desde já ar presidencial. Dilma já sentou na cadeirinha.
FERNANDO DE BARROS E SILVA - Folha de S. Paulo, página A2, sábado.

 

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